São Paulo, 08 de Outubro de 2022

Caro amigo leitor.
Quero primeiro agradecer a sua companhia por tanto tempo. Escrevo para libertar meus pensamentos, para esculpir em palavras o que as mãos não são capazes de fazer. E ter você ao meu lado, lendo o que escrevo, é algo inestimável para mim. Muito obrigado!
Vivemos tempos difíceis. As pessoas tornaram-se mais egoístas, e isso doí. Vemos exemplos disso para todos os lados, em todas as frentes. Vemos isso na cultura, educação, meio ambiente, política, religião. Mas hoje quero escrever sobre abandono. Mas não de qualquer abandono, mas do abandono afetivo.
Existe o abandono familiar. Filhos abandonam pais à própria sorte quando esses estão em idade avançada ou doentes. Literalmente “largam” em algum lugar de suas casas, em camas de hospital ou deixam em qualquer casa de repouso perdida por aí, esquecendo que essas pessoas existem. Não visitam, não dão carinho, afeto, cuidado ou aconchego.
O mesmo acontece com pais que abandonam filhos. Tal qual, ficam soltos pelo mundo sendo obrigado a sobreviver da forma que for. Poucos escapam da vida de drogas, crimes e prostituição, pois não tem estrutura física nem psicológica. Precisam sobreviver, e farão isso da forma que for capaz.
Em ambos a situação é deplorável e degradável. Os abandonados transformam-se apenas em fragmentos do que foram um dia ou do que poderiam vir ser. Para esses, apenas a compaixão e caridade pode trazer um alento. Dependem da ajuda de desconhecidos para ter alimento, moradia, higiene e acima de tudo, carinho. Carinho é o que mais lhes falta. Podem até conseguir (à duras penas, no esforço diário), algo para comer, o mínimo de higiene, um lugar para repousar (mesmo que precário). Mas carinho… como é difícil. Crescem ou morrem amargos, vendo a vida por um prisma sem cores, onde tudo é triste, inútil, sem propósito.
Porém além desses dois abandonos, tão comuns e reais, existe o abando afetivo dentro de casa. Nesse momento uma pessoa pessoas torna-se menos importante que uma mobília. Torna-se invisível, desimportante, insignificante. Esse abandono mata por dentro. É tornar-se refém em sua própria casa. E quantas vezes isso não passa desapercebido. Já notou que aqueles que vivem em lugares fétidos se “acostumam” com o odor? Viver em um ambiente de abandono afetivo é similar. É permitir-se matar lentamente a luz que dá sentido a vida.
Não abandone! Jamais! Seja digno com você e com os outros. Dê todo afeto, carinho e compaixão necessária. Faça o que for preciso para seu bem e o bem do outro. Rompa, afaste-se, não importa. Mas não mantenha uma vida tóxica, ou pior, uma vida totalmente sem afeto, uma vida alheia.
Todos os abandonos acima são dolorosos. Cada qual é tão pesado quanto outro, e só quem passa por cada um deles sabe a dor que sente.
Lute pela felicidade, sempre. No fim, é disso que é feita a vida.
IMAGEM POR Karolina Grabowska | PEXELS
1 comentário
Eu estou aqui, firme e forte no hospital rendendo meu irmão que estava até agora com o meu pai. Abandono é muito triste. Sorte os que tem filhos como a gente❤️