São Paulo, 03 de Maio de 2022

“Do fogão para mesa! Textos escritos no calor da emoção!”
As redes sociais são uma benção se bem usadas.
Como a “cultura chama cultura “, acompanhar os perfis culturais nos presenteia com pérolas paulistanas.
Foi em um desses posts soltos ao vento que descobri e reservei um ingresso – em uma segunda feira para ver uma peça na terça feira – novamente, de graça!
Assim tive a oportunidade de assistir “Foxfinder – A Caça”, da britânica Dawn King, com direção de Wallyson Mota, tradução de Carolina Fabri (sinopse oficial ao final da crítica).
O espetáculo começa ao entrar na sala – uma segunda sala de espetáculos que fica abaixo da plateia da sala principal do teatro Sérgio Cardoso em São Paulo – quando somos recebidos, ao som de MUSE, por 4 atores que ficam andando de um lado para outro em uma tablado feito de 16 palets de madeira mesmo antes da peça, oficialmente começar, ou seja, antes do terceiro sinal tocar. A primeira impressão é tudo que vemos em cena.
Assim que a peça “começa”, uma das personagens caminha até o meio da plateia e começa a narrar um sonho. Dessa forma somos automaticamente envolvidos pelos personagens e suas histórias.
Passa longe do conceito “clássico” de uma apresentação. O palco não se restringe ao quadrado de 16 posições. Os atores vão pouco a pouco tomando conta de toda sala, inserindo elementos antes não vistos, mas que estavam o tempo todo presentes, como baldes e cordas, e vão caminhando por todo o teatro, entre o público, seja na frente ou atrás das poltronas.
A forma de apresentar o assunto ao qual se propõe e a crítica que se deseja realizar é subjetiva. Sem que o espectador exerça o mínimo de senso crítico e metafórico, pode passar desapercebido o real intuito da peça. Mas em um determinado momento, tudo fica claro quando recebemos um convite formal (em bilhetes entregues pessoalmente por um dos personagens) ao real pensamento ali presente.
A temática é lindamente apresentada por um elenco restrito a 4 atores que se revezam em cena, sem nunca sair efetivamente da vista do público, e nos levam a diversos cenários e situações dentro de um mesmo espaço ocupado por eles, 4 cadeiras e 8 baldes de metal.
Em um português ligado no X2 (usuários de WhatsApp entenderão), pessoas não concentradas sem dúvida se perderão no mar de palavras proferidas por minuto (pobres estrangeiros que decidirem ver a peça). Esse pequeno detalhe não tira o brilho de cada atuação, verdadeira e envolvente, ao qual os personagens se entregam durante toda a peça, enquanto representam seus papéis olhando uns aos outros, sem entregar diretamente ao público suas apresentações, o que enriquece cada cena.
Assim somos apresentados à uma realidade tão próxima e diária a todos nós, mas que passamos ao largo por não conseguirmos enxergar a raposa.
Ou por apenas ignorá-las!
SERVIÇO
Foxfinder – A Caça
Teatro Sérgio Cardoso (GRATUITO) – Rua Rui Barbosa, 153, São Paulo – São Paulo
Espetáculo Gratuito (Segundas e Terças as 19:00, de 02/05/22 à 14/06/22)
A obra é uma parábola distópica sobre o lugar do medo na dominação de um povo e os caminhos para instalação do fascismo em uma sociedade em decadência. A trama se passa em uma fazenda inglesa ameaçada pela crise da produção de alimentos que recebe a visita do inspetor William Bloor, um agente do Estado responsável por fiscalizar as propriedades agrícolas. O casal Samuel e Jude Covey está preocupado com a morte recente de seu filho e com a falta de colheitas em sua propriedade. E o oficial está à procura de raposas, que seriam, para o Estado, responsáveis por ameaçar a civilização, contaminar as plantações, prejudicar a produção de alimentos, influenciar o clima, abalar a mente das pessoas e matar crianças – mesmo não tendo sido vistas nos campos há anos.