São Paulo, 03 de Maio de 2022

Existe mágica no ar, no andar, no viver. Existe ações e reações. Existem momentos e escolhas. E afinal, o que é a vida, senão momentos e escolhas?
Somos presenteados dia após dia com novas oportunidades, novas chances, novas vidas, novas pessoas, novos ares, novos lugares.
Ao “passo a passo” por onde passo com meus passos, pequenas gotas de vida são depositadas em meu corpo, elevando os cantos de meus lábios em sorrisos soltos e leves, que não se dissipam facilmente. São sons, perfumes, imagens, sabores e sensações impressas com tinta indelével sobre minhas memórias vivas.
Em uma dessas escolhas que fiz, fui presenteado por horas incríveis banhadas pelo fino da música brasileira.
Após o deleite da peça “Foxfinder” (ver crítica aqui), à poucos passos, em uma pequena porta, as notas musicais evadiam do espaço escuro como a fumaça das tortas quentes nas janelas das casas em desenhos animados.
Olhei, passei, andei duas quadras. Uma sensação estranha tomou minha mente. Parei. E voltei!
Como foi sábia a decisão. O espaço ao qual entrei mostrou-se muito mais que um bar. O “Al Janiah” é um restaurante palestino e centro cultural encrustado no Bixiga. Um espaço poli cultural, rodeado por bandeiras e escritas palestinas, bem como bandeiras cubanas e ícones da história desses países e de tantos outros, onde seus povos, sofrido ao extremo, muitas vezes precisa refugiar-se em países estranhos ao seu idioma, aos seus rostos, à sua comida e à sua cultura.
Composto de 3 ambientes, um interno com palco, um grande espaço externo e ainda um piso superior, a casa serve deliciosos pratos com valores acessíveis, onde é possível sentir um pouco dessa viagem cultural. Infelizmente os drinks especiais da casa estavam em falta, mas será um excelente motivo para retornar à casa e ser atendido por seus simpáticos funcionários, quase em sua totalidade refugiados.
Mas tudo isso foi parte da surpresa, da qual eu nem poderia imaginar quando entrei, visto que não sabia o que me esperava em termos culinários e culturais. Meu atrativo ao local não foi o nome do restaurante nem seu espaço, mas as notas musicais que dançavam no ar. E essas notas eram tocadas pela “orquestra musicando”. Conforme a própria descrição presente no post oficial do “Al Janiah” : “O Musicando sem Fronteiras é um projeto que propõe a formação cultural e artística de jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social, assim como a valorização dos espaços públicos – praças e coretos, do estado de São Paulo, idealizado pela ong INSTITUTO DE EDUCAÇÃO INTEGRADA GAROTOS SEM FRONTEIRAS – IEIG SF, e que tem Guga Stroeter como Diretor Artístico e João Suplicy como Produtor Musical, além de um time de jovens músicos que integram a banda do show e o corpo docente do projeto de formação”.
E foi dessa forma que me contagiei instantaneamente. Escolhi uma mesa com boa visão do palco, sentei-me na cadeira e comecei automaticamente a “batucar na mesa”. Demorei alguns instantes para notar exatamente o que se passava ao palco. O Maestro Guga Stroeter , nomeado Grammy latino 2021, regia e tocava junto à jovens e adultos promissores, acompanhados do patrono da orquestra, o incomparável e multifacetado João Suplicy, e da diva Elisa Dias. A cada música por ela cantada, a cada samba na ponta do pé, a cada nota afinada, a cada desfile de sua beleza pelo palco, a pequena, mas entusiasmada plateia, encantava-se. E eu com eles! Foram incríveis momentos de uma intensa musicalidade, acompanhado, é claro, de um bom Mojito e um “Sanduiche de Sujok”.
No intervalo, ainda tive a honra de conhecer a encantadora Elisa Dias, ao qual foi extremamente simpática, quase como se já a conhecesse, tornando-me admirador imediatamente.
Após o intervalo, agora acompanhado de um babaganoush na medida certa de temperos e uma cervejinha no ponto, a orquestra voltou a tocar com a presença da cantora Andressa Pezzuol que veio a abrilhantar a noite.
Em um clima de completa descontração, em um verdadeiro “ensaio aberto” (palavras do maestro), a apresentação terminou contagiada de alegria.
Não só a música, não só o local, não só a comida, não só a bebida, não só os artistas. Não “só”, mas sim, “tudo”!
Ao acaso entrego minha vida por mais oportunidades como essa. Ao simples fato de ir, de entrar, de tentar.
Todas as oportunidades estão voando livres pelo céu, estão banhadas pelas águas do mar e dos rios, estão no calor do asfalto e no brilho do concreto, estão as flores e folhas das florestas. Todas as oportunidades estão por aí.
Basta ter coragem. E se arriscar.