São Paulo, 03 de Abril de 2022

Amigo leitor
Eu já fui jovem um dia. Jovem de idade, por assim dizer. Você também foi. Ou é!
O jovem é navio gigantesco em um mar de possibilidades pronto a ser explorado. Ele tem força, vontade, coragem, audácia, garra e ousadia. É destemido. É persistente. Não tem medo. Ou tem medo, mas vai mesmo assim.
A juventude é uma fase maravilhosa. As outras todas também, cada qual com seu benefício. Mas na juventude temos a certeza de que tudo é possível. E por isso mesmo lutamos pelo que desejamos com todas as armas, com todas as forças.
O jovem faz escolhas. Algumas que levará para o resto da vida. Outras que duram alguns momentos. Algumas certas, outras que se mostrarão erradas no futuro. Mas tentam. Tentam muito. Tentam de tudo.
Muitas vezes os jovens não dão ouvido aos mais velhos, mais experientes. Acham que sua juventude é suficiente para alcançar seus sonhos e desejos. Acreditam que o passado já mudou, e que o seu jeito é o correto. Só ele sabe o que está certo!
Mas alguns jovens tornam-se aprendizes. Observam, respeitam, obedecem, tem disciplina e perseverança para serem os “melhores” e alcançar o topo da montanha que desejarem.
Hoje, 03 de Abril de 2022, tive a honra de estar na presença de alguns deles. No solo sagrado da música erudita, a Sala São Paulo de Concertos, eu, novamente, tive o deleite dos sons que vibram na alma atravessarem meu corpo e arrancar suaves gotas descendo por minha face.
Ali, naquela agradável tarde de domingo, enquanto milhares acompanhavam mais uma final do campeonato estadual de futebol, eu, na agradável companhia de minhas primas, tia e queridas amigas, bem como aos outros mais de 1500 espectadores, pudemos presenciar uma apresentação acima, muito acima do “normal”.
Sou um aficionado pela música erudita. A Sala São Paulo é, sem dúvida, meu refúgio, meu lugar seguro à essa vida desvairada. Mas essa apresentação foi “mais”. Mais intensa, mais forte, mas alta, mais veloz, mais completa, mais viva. Poucas, pouquíssimas vezes senti tamanha intensidade. Parecia que todas minhas células vibravam a cada acorde.
O que foi diferente dessa vez? A JUVENTUDE! Existia uma entrega, algo no olhar de cada um deles, algo no balançar de seus corpos a cada nota, algo de intenso quando dividiam seus olhos entre seus instrumentos, as partituras e o maestro. A forma com que se cumprimentaram antes do início da apresentação, os desejos de boa sorte que cada uma fez ao outro, os abraços ao final, cada gesto desses apenas comprovaram o quanto especial foi aquele momento.
Eles poderiam estar tocando obras centenárias, grandes compositores, renomados Brasileiros. Mas não. Estavam tocando trilhas sonoras. As sinfonias dos novos tempos. Novos Beethovens e Mozarts, chamados Zimmer, Williams e tantos outros. Cada composição nos remete as obras audiovisuais que tanto nos encantam, que nos levam para outras realidades por algumas horas. E ali, ao vivo, com centenas de jovens prodígios fazendo de cada instrumentos parte de seu corpo, ali, essas composições tomaram vida, e se tornaram maior que suas obras.
Tenho apenas a agradecer. Agradecer à cada um desse jovens que dedicam horas e horas de cada um de seus dias, de sua juventude, para aprender, treinar e aperfeiçoar seus dons. Agradecer ao maestro Claudio Cruz a toda equipe da EMESP por entregar suas almas à esses jovens.
À vocês, jovens prodígios, peço que nunca desistam dos seus sonhos. Sejam eles quais forem. Seja na música ou em qualquer outra área, que sejam tão vivos e intensos como foram hoje.
Eu queria permanecer ali. Naquele momento, naquele lugar, naquela sensação pelo resto de minha vida. Se ali eu vivesse, seria feliz, pois vocês me propiciaram isso.
À nós, público, só resta aplaudir.
De pé!
E pedir BIS!