São Paulo, 27 de Dezembro de 2021

Sinto a falta do fato, do ato.
Sinto muito, pela perda, pela ausência.
Quem eu quero enganar? À mim mesmo? Ao mundo?
Luto para do poço ficar distante do fundo.
Está tudo vazio.
Um grande espaço escuro.
E vivo dentro dele.
Preso à ele por um elástico..
O espaço escuro tem bordas, mas não tem forma.
Do lado de fora existe a luz.
Em alguns pontos a distancia do centro, onde estou, até a borda, é bem pequena.
Em outras é bem distante.
A borda move-se o tempo todo. O espaço muda de formato.
Fica maior ou menor. E cada vez mais disforme.
Vez ou outra fica muito próximo ao centro
Nessas horas vejo a luz assim que abro os olhos.
Existe a vida fora daqui. Existe a alegria.
Junto forças diariamente e salto.
Passo horas no exterior.
Onde existem pessoas, sorrisos, histórias, risos, filhos, amores, beijos, desejos.
Mas o elástico me puxa de volta.
Para dentro desse espaço escuro.
Em seu centro, flutuo, indefinidamente.
Não existe um lugar firme para ficar.
Não existe um chão seguro para aportar.
As vezes cordas são lançadas de fora para dentro.
São cordas incrivelmente reluzentes, que rasgam esse espaço como se fosse destruí-lo para sempre.
Agarro com toda minha força e sou puxado para fora.
Mas, do lado de fora, as cordas vão ficando finas. E estouram.
O elástico me puxa para dentro novamente.
Eu estou sempre no centro. Mesmo sem forma, o centro sou eu.
E ao dormir, a luz do espaço externo e a escuridão do espaço interno se fundem.
Tudo fica sem sentido. Não existe mais elástico, nem luz, nem escuridão.
Flutuo solto entre pequenas bolhas de luz e sombra, que dançam comigo uma sinfonia variante.
A bolhas me atravessam, e eu as atravesso. Bolhas colidem comigo. Estou no centro da colisão.
Os sonhos são gerados. E refletem a quantidade de luz e escuridão contida em cada bolha que se fundiu a mim.
Quando apenas as escuras me tomam, os pesadelos são vívidos e vividos como a mais vil realidade.
Quando apenas as luminosas se fundem à mim, são sonhos que trazem a tona os desejos mais profundos de um felicidade tão volátil.
Ao total desequilíbrio entre luz e escuridão, me perco dentro de mim em meu pensamentos.
Variações de sonhos e pesadelos, desejo e realidade, medos e alegrias, tudo em frações de segundos.
O subconsciente se funde ao consciente. Cria novas lembranças.
Uma realidade que não aconteceu e não acontecerá.
Não sei quando vim parar aqui. Dias, meses, anos?
Talvez eu sempre estive aqui.
Talvez o “aqui” nem exista.
Buscarei por toda a eternidade afrouxar esse elástico.
Quero viver na luz, e deixar a escuridão apenas ser visitada.
Pois ela nunca deixará de existir. Nem a luz nem a escuridão.
Somos feitos de tudo e nada.
E para nós, a única coisa real é o sonho.
“É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração”
A benção Vinicius de Moraes. A benção.
IMAGEM POR Lars_Nissen|PIXABAY