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O COELHO E O ESPINHEIRO

São Paulo, 28 de Novembro de 2021

Cao era um coelho jovem, cheio de vida, cheio de energia. Começando a conhecer a vida. Começando a sentir a vida.

Ele sabia que os coelhos e os espinheiros era grandes amigos. Os coelhos não se machucam nos espinheiros. E isso lhes dá proteção. Quando um predador se aproxima, eles correm para o meio dos espinheiros para se proteger.

Passeando por entre o os arbustos de espinhos, Cao encontrou Belle. Um jovem ramo, sem espinhos, verde e forte. Belle e Cao rapidamente se derem muito bem. E Cao passou a vê-la todos os dias. Quando mais ele à via, mais ele queria ficar perto dela.

Com o tempo, Cao estava feliz pelo simples fato de estar ao lado de Belle, e resolveram ficar juntos. Não iria mais sair do lado dela e ela do dele.

Ambos adoraram aquilo. Passavam o dia vendo os pássaros, sentindo o vento, assistindo o entardecer e o amanhecer, conversando sobre os outros arbustos e coelhos. Mas Belle começou a crescer. E conforme crescia, envolvia Cao. Cao adorava, pois se sentia cada vez mais seguro. Estava ali porque queria, porque gostava de estar ali. E ela adorava que eles estava ali. Cao não queria estar em nenhum outro lugar. Era realmente feliz.

Mas com o tempo começaram a nascer os espinhos em Belle. Como Cao estava bem e feliz, não sentiu os espinhos. E Belle também não percebeu seus espinhos crescendo.

Os espinhos cresciam devagar e entravam no corpo de Cao. Mas era tão lento que ele não sentia dor. Sentia que estava se conectando cada vez mais com Belle. Não doía. E Belle não sentia problema em Cao estar ali, fazendo parte de seu crescimento.

Belle tinha lindas e perfumadas flores, o que encantava Cao. E Cao era uma boa companhia para Belle. Mas os espinhos não faziam bem para ela. Ela não entendia por que tinha tantos espinhos, se antes ela era tão feliz sem eles. E não consegui entender por que sentia tanta dor.

Via os outros arbustos ao seu lado e todos pareciam mais felizes. Mais livres. E nenhum deles tinha um coelho “dentro” de si. Os coelhos iam e vinham, mas não ficavam ali o tempo todo.
Belle era conhecida como ‘aquela que vive em simbiose com um coelho’. Todos admiravam aquilo, pois parecia perfeito visto de fora. Não conheciam outro arbusto ou outro coelho com aquela sintonia.

Um dia Belle não aguentou mais suas dores e percebeu que a presença de Cao talvez fizesse ela sentir dores que os outros não sentiam. Belle abriu o jogo e pediu para Cao sair. Ele não queria. Gostava tanto dali. Se sentia tão bem. Fez de tudo para evitar, até que enfim entendeu que não teria como ficar, pois queria Belle feliz, e ela já não era feliz com ele lá.

Quando Cao saiu, todos os espinhos que estavam dentro dele permaneceram presos em Belle. E Cao sangrou. Sangrou muito. Doía o tempo todo. Doía tanto que achou que ia morrer.

Belle desmoronou. Ela não tinha percebido que tinha construído sua estrutura com Cao fazendo parte dala. As flores murcharam e caíram. Ficou um conjunto de galhos esparramados pelo chão.

Os outros arbustos mais próximos começaram a apoiar Belle. Deram força, deram ideias, conversavam o tempo todo para que Belle conseguisse se reerguer.

Cao, mesmo muito ferido, passava próximo de Belle com frequência para oferecer ajuda, para tentar levantá-la. Mas ela não queria. Não conseguia ter forças para levantar-se com ele ali. Ela sabia que precisava conseguir se reerguer sozinha. Senão, nunca conseguiria ficar em pé por si mesma.

Com o tempo as feridas de Cao foram cicatrizando. Ficaram as marcas, ficaram cicatrizes, mas já não sangravam. A dor foi diminuindo. Porém ele sentia falta, muita falta de Belle. Não só dela, mas daquela sensação de estar “completo” com ela.

Mas ele também percebeu que jamais poderia voltar a ser envolvido pelos galhos de Belle. Nem de qualquer outro espinheiro. Ele deveria conviver, mas sem fazer parte um do outro.

Belle também entendeu isso. Conseguiu se reerguer, se reestruturar. Alguns galhos morreram, outros nasceram diferentes. Mas ela voltou a dar flores. Com outras cores e outros perfumes, mas ela estava lá, de volta a vida.

Agora as vezes Cao vê Belle de longe. As vezes até fala com ela. Mas tudo mudou entre eles. Belle passou a conviver com outros espinheiros e outros coelhos, e Cao também.

Um dia talvez os dois encontrem novas parcerias que os façam felizes, mas nunca mais deixarão novamente que um coelho ou um arbusto façam parte integral deles.

FOTO POR fietzfotos|PIXABAY

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Emma Dee McCabe
Emma Dee McCabe

Author/ Photographer
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