São Paulo, 6 de Setembro de 2021

Você já teve preguiça? Mesmo? Aquela que te derruba? Que você não quer nem abrir os olhos por preguiça de ver a luz? Bichinho ardiloso essa preguiça.
As vezes temos preguiça de trabalhar. Trabalhar é necessário, mas nem sempre é “divertido”. Mas temos que trabalhar, porque temos que viver e sobrevir. E só do trabalho vem os recursos necessários para isso. Ou deveria ser.
As vezes temos preguiça de falar. E as vezes de ouvir. Como o silencio as vezes é precioso. Mas como as vezes ele é mortal tal qual uma faca cravada no crânio. Só que nessa hora quem bate é à porta é preguiça de procurar alguém para conversar. E já pode ser tarde demais para encontrar essa pessoa.
As vezes temos preguiça de nos relacionamos. Amigos, família, não importa. É só aquela preguiça besta que toma conta da mente.
As vezes temos preguiça de sonhar. Por que sonhar? Pra que? É tão distante. Usamos tanto tempo sonhando e a vida adora nos passar a perna.
As vezes temos preguiça de levantar da cama. Tá tão bom, quentinho, tão tranquilo.
As vezes temos preguiça de sorrir. Pois a vida não “tá bolinho”. Deixa os músculos do rosto ai, em paz.
As vezes temos preguiça de nos divertirmos. Parece bobo, fútil, perda de tempo. Tão breve. Tão insólito. Logo vem a realidade e te lembra que a diversão passa, que tudo passa.
As vezes temos preguiça de amar. Nos entregarmos e não sermos correspondidos. Quebrar a cara. Vale por cada segundo de alegria, mas as vezes dá um preguiça lascada.
As vezes temos preguiça de nos arriscarmos. Riscos dão trabalho, e você não sabe onde vai dar. Mas “fazer nada” também dá trabalho. Nunca sabemos no que vai dar, fazendo ou não fazendo.
As vezes temos preguiça de pensar. Pensar pra que? Se não somos donos de nossa vida, de nosso destino. Male mal somos donos do próprio pensamento. E olhe lá! Quando você acha que está pensando por si mesmo, tem um emaranhado de pensamentos de outras pessoas junto ao seu. Se você tentar se concentrar para pensar como você, só você, aí que dá pane total. Você percebe que o que pensa agora pode ser 100% diferente do que pensava à minutos atrás, e pode ser totalmente diferente do que vai pensar no próximo minuto.
As vezes dá preguiça de viver. Mas isso não é escolha. Pelo menos não deveria ser. Não pode ser. Pra mim não é. Gosto da vida, e tenho a sensação que ela gosta de mim. Mas, agora, tudo que eu sinto é preguiça.
“Que preguiça!”, já diria Macunaíma.
Foto por Mister Mister|Pexels